“Há exagero; pessoas estão virando caricaturas de si mesmas”

Compartilho com você a entrevista da semana do Mídia News, em que fui entrevistada. Obrigada aos jornalistas Anselmo e Bianca pela abordagem de assuntos tão sérios e importantes:

Pacientes estão buscando cada vez mais intervenções milagrosas que prometem deixá-las com rostos perfeitos e o corpo com partes semelhantes aos de celebridades. Esses excessos na busca pela beleza e juventude eterna têm preocupado especialistas como a dermatologista Natasha Crepaldi.

 

“Estes procedimentos estéticos com preenchimento, harmonizações, lasers, cirurgias que estão sendo feitos demais e acabam descaracterizando as pessoas, fazendo caricaturas delas mesmas”, afirmou.

 

Parte da culpa, segundo a especialista, se deve à ação de profissionais sem capacitação e com pouco escrúpulo. “É uma área muito propícia para oportunistas. Nós, dermatologistas, cirurgiões plásticos, estamos muito bem preparados para encarar a estética como a Medicina”, expôs a dermatologista.

 

Formada pela UFMT com pós-graduação em Dermatologia e Medicina Estética, Natasha – que é membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), da American Academy of Dermatology (AAD) e da Academia Europeia de Dermatologia e Venereologia (EADV) – falou nesta semana com o MidiaNews.

 

Confira os principais trechos da entrevista:

 

MidiaNews – Cuiabá é uma cidade quente, com períodos de forte seca intercalando com épocas de bastante umidade. Viver aqui faz mal para a pele?

 

Natasha Crepaldi – Faz mal para a pele porque a gente, praticamente, cozinha aqui. Tudo o que a gente sabe hoje que provoca mancha, que envelhece – que é o principal fator de envelhecimento fora o cronológico – é o Sol, o calor e as luzes. Aqui a gente vive mais de 80% do ano com índice ultravioleta, que é um dos medidores disso, altíssimo. É um muito extremo. O indicado é se proteger, ficar em lugares cobertos, usar roupas protetoras.

 

 

MidiaNews – Em um ambiente destes, como cuidar da pele nos 365 dias do ano? Não é uma tarefa difícil e cara?

 

Natasha Crepaldi – É bem difícil e caro. Também por isso que hoje já existem políticas trabalhistas recomendando para trabalhadores que passam o dia em exposição solar em motos, em áreas rurais, de fornecer filtro solar. Realmente é caro e complicado. Se você for seguir as recomendações, a quantidade [de protetor] é bem maior do que a gente usa. Ou é dupla passagem a cada quatro horas ou uma colher de café para o rosto e uma colher de chá para cada parte do corpo. Então a quantidade é muito grande e é caro. Para esses índices muito extremos, a indicação é roupa protetora. Principalmente para aquelas pessoas de risco que a gente tem muito no Estado, que são os sulistas, sobretudo no interior. Às vezes, eles estão trabalhando direto no Sol e eu recebo muitos com câncer de pele, com pintas e até o câncer mais grave, que é o melanoma.

 

MidiaNews – Quais o sinais de que pode surgir algum problema de pele?

 

Natasha Crepaldi – Tem que ficar atento a qualquer lesão nova. Surgiu uma lesão que descama ou que tem uma cor estranha, qualquer surgimento de lesão na pele que não está cicatrizando, que passou de uma semana a 15 dias e se mantém, se surgiu algo novo tem que prestar atenção. Com lesão antiga, tem algumas regrinhas. Tem que ficar atento para uma lesão que não é uma bolinha bonitinha, ela é meio esquisita, é toda assimétrica, tem a borda irregular, está em crescimento, tem coloração estranha, uma área é preta, outra é marrom, outra é vermelha, tudo na mesma lesão. A diferença de cor na mesma lesão não é legal. A maioria dos melanomas tem diâmetro maior que seis milímetros. Esses são os indícios.

 

MidiaNews – Uma coisa que está na moda é o bronzeamento artificial, como o uso da fita de bronzeamento. Há algum risco neste tipo de procedimento?

 

Natasha Crepaldi – Sim. Aquelas câmaras de bronzeamento são totalmente proibidas. É o espectro de radiação mais perigoso para a pele. Já há um ou dois anos que foram proibidas. As que existem são clandestinas e não se vê mais propaganda disso porque é proibido. Já esses locais de bronzeamento usam aceleradores com o Sol mesmo. São casas que, também clandestinas, nos quintais, preparam as pessoas com produtos de manipulação caseira ou óleos. E é uma coisa bem “caseirona” mesmo. É como você colocar um grill para cozinhar no forno. Você coloca uma coisa que acelera e manda a pessoa para o forno. Os riscos são todos: da pior radiação, no pior período. O risco é maior de câncer de pele. A gente já viu vários problemas de queimaduras, bolha… Tem risco sim. É aquela coisa bem de adolescente em que se pega uma Coca-Cola com óleo de coco, mistura tudo, passa no corpo e vai. Geralmente, a Vigilância Sanitária não pode nem invadir porque são casas como se fossem locais de lazer da pessoa, não são locais que divulgam que fazem esse tipo de bronzeamento.

 

Há também os jatos de tinta. Esses são totalmente permitidos. Eles usam hidróxido de acetona, que é um pigmento que se liga à camada que descama da pele, é como se fosse uma tinta que você aplica no corpo. Aí existem várias mudanças de tons para adequar às peles. É como uma maquiagem que sai entre sete a 10 dias. Esses não têm problema para a pele.

 

 

MidiaNews – Como a senhora vê essa obsessão pela juventude eterna, essa necessidade de contrariar a ordem natural da vida? Não acha que há exagero de certas pessoas em não aceitar o envelhecimento?

 

Natasha Crepaldi – Com o aumento da longevidade, com a inserção da mulher de forma agressiva no mercado de trabalho, isso vem tomando conta. Tem sido muito difícil lidar com isso no consultório. A gente tem estudado muito sobre transtornos dismórficos porque tem sido frequente. As pessoas querem algo que às vezes não é possível. Elas querem o rosto de outras pessoas, partes do corpo de outras pessoas e isso tem sido bem complicado até para abordar.

 

Hoje em dia eu tento fazer um trabalho educativo, tento dizer que abordar o envelhecimento é tirar aspectos negativos que o rosto começa a apresentar. Se tem alguma ruga, alguma linha de expressão, não é um problema. Tem coisa que a gente tem que aceitar com o passar dos anos. Agora, o rosto transmitir algo negativo como um olhar muito cansado, um aspecto de bravo, uma pele muito suja, isso é muito ruim porque quando a gente fala em imagem, em marca pessoal, a gente fala no conteúdo que a gente vê da pessoa que seria uma embalagem. Quando essa embalagem não condiz com o que você quer passar, isso fica ruim quando você vai se apresentar no trabalho, no relacionamento. Então essa embalagem tem que estar de acordo e até mesmo com a idade. Você não pode estar com 60 anos e aparentar 30, mas nem 80 anos. Tem que estar de acordo.

 

 

MidiaNews – A harmonização facial tem se popularizado muito entre jovens, principalmente com esses digitais influencers. Isso pode se tornar um problema?

 

Natasha Crepaldi – Sim. Na verdade, esses jovens ainda não estão com o senso crítico totalmente pronto e preparado para fazer esse julgamento. O que é trabalhado nessa população? É aquela parte de corrigir imperfeições no público muito jovem. O público mais jovem quer fazer transformações. “Eu acho meu rosto redondo e quero ficar com ele mais quadrado, mais definido”. Mas isso exige muita técnica, muita conversa para entender se a pessoa tem um psicológico para suportar isso porque são grandes mudanças. Às vezes é igual cirurgia plástica e tem um pós maior – a pessoa fica de 15 a 20 dias inchada. Tem que compreender bem o que é. Isso exige tanto experiência quanto uma conversa para chegar a um objetivo. Eu acho muito perigoso. A internet ficou muito perigosa porque trouxe muita coisa que pode ser impulsionada para um público alvo que compra aquilo e nem sempre compra corretamente.

 

 

MidiaNews – Nos últimos anos, vimos a popularização do botox. A senhora acha que está havendo um exagero no uso?

 

Natasha Crepaldi – Eu acho que o botox é incriminado erroneamente às vezes. Tudo que se coloca no rosto acaba sendo chamado de botox e ele acaba sendo o culpado de tudo. Mas o botox nem consegue fazer tanta coisa assim. As pessoas falam: “Colocou muito botox, a boca está enorme”. Raramente o botox é colocado na boca. Falo destes procedimentos estéticos com preenchimento, harmonizações, lasers, cirurgias que estão sendo feitos demais e estão descaracterizando as pessoas, fazendo caricaturas delas mesmas. Acho que há um excesso de procedimentos, acho que as pessoas estão exagerando. E estão exagerando porque há profissionais por trás disso permitindo e fazendo. Hoje a coisa está meio liberada. A nossa última presidente liberou o ato médico para várias profissões entrarem nesse campo da estética e hoje há várias profissões invadindo.

 

É uma área que as pessoas buscam muito para resolver problemas de autoestima, para resolver problema psicológico, para resolver problema matrimonial, problema de desemprego. É uma área muito propícia para oportunistas e, com isso, muita gente despreparada invadiu e está acontecendo isso. Nós, dermatologistas, cirurgiões plásticos, estamos muito bem preparados para encarar a estética como a Medicina. Você chega ao médico com tosse ou com dor no peito e o médico vai diferenciar se é uma gripe, um infarto, um edema agudo de pulmão e vai te dar um remédio. Na estética vulgar, a pessoa chega e pede boca, você faz boca. Se ela pede olheira, você faz olheira. E o médico tem que fazer o diagnóstico do seu rosto. “A boca vai ficar estranha porque vai ficar uma boca em uma uva passa e não vai combinar”. Isso é o correto. Aí volta a fazer uma coisa educativa, explicar que tem que levantar o rosto, que só uma boca não vai combinar, que é igual por um quadro em uma parede suja. Aí vamos fazer um planejamento, um tratamento. Isso vai se perdendo da Medicina e se tronando algo que se pode comprar em uma farmácia. Eu não sei bem onde isso vai parar. É um problema de saúde pública.

 

 

 

MidiaNews – Qual a diferença entre o botox e o ácido hialurônico? Para quais casos eles são recomendados?

 

Natasha Crepaldi – O botox é uma toxina que vem sendo usada há mais de 30 anos e ela faz um relaxamento de músculos. É um líquido transparente aplicado com injeção em áreas de linhas dinâmicas. Por exemplo, na testa, no sorriso. Onde você consegue ter essa movimentação de músculos, você aplica, esse músculo é relaxado e você previne ou trata aquelas linhas de expressão. O botox não consegue aumentar volume, preencher, não consegue fazer pontos de sustentação.

 

O ácido hialurônico é um gel transparente de várias consistências. Então existe um bem durinho que parece quase uma pedra de gelo até um mais mole que parece aquelas gelecas. No meio deles existem várias consistências que são usadas para vários fins. A gente pode usar o mais fininho para um preenchimento de lábio, que fica macio, até um mais durinho para fazer um ponto de sustentação em que a gente quer levantar o rosto ou para fazer uma forma parecida com osso para mudar o contorno, ou uma forma intermediária para mudar o nariz. É um gel moldável que a gente usa para fazer formas e tem uma infinidade de coisas que a gente pode construir com ele.

 

Tem várias atrizes que eram feias e ficaram lindas, eram bonitas e se mantêm bonitas com 50 anos. Muitas delas é graças ao ácido hialurônico.

 

Ele dura mais ou menos um ano a um ano e meio e vai sendo absorvido pelo próprio organismo. Isso nos dá certa segurança de que pode voltar ao normal. Existe uma enzima que pode dissolvê-lo na hora. Então estamos preparados para caso tenha algum problema de a pessoa não gostar. Tira tudo na hora e depois de dois dias já não tem mais nada.

 

MidiaNews – O mercado está cheio de produtos antienvelhecimento e antissinais. Como saber se são eficazes?

 

Natasha Crepaldi – Hoje tem uma separação de produtos de venda livre que são aqueles que você acha na farmácia. Esses são produtos que são mais conhecidos, se tiverem aprovações da Anvisa, eles serão eficazes. A gente recomenda produtos dentro do prazo de validade, que são de marcas aprovadas pela Anvisa, de venda em farmácias que tenham as certificações corretas, te dão mais segurança. A gente vê muito páginas de internet sendo impulsionadas e aparecem em todos os lugares com um produto milagroso e a gente não consegue saber. Você pode misturar qualquer coisa ali, vender e dizer que tem, que resolve, que rejuvenesce.

Dra. Natasha Crepaldi
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